quarta-feira, 7 de outubro de 2015

OContadordeSonhos                                                                  
                                                                                                                    By Paulo Djorge
Personagens:
Nestor Coímbra - Português  dono da Editora Ruptura
Heitor Coímbra -  filho de Nestor
Adamastor Coímbra – Filho do meio de Nestor
Aurora Coímbra – Filha caçula de Nestor
Dnª Dulce Coímbra, esposa de Nestor e mãe de Heitor
Agenor Coímbra – Irmão de Nestor
Helena – Namorada de Nestor
Dnª Mercês Rodrigues - Chefe de contabilidade e amiga de Nestor e Dulce vieram juntos para o Brasil.
Dnª Maria - dona da copa e cozinha da Editora
Jandira -   ajudante de Dnª Maria
 Geraldo Magela – escritor autor do Romance
Sr. Albuquerque – Diagramador e copydesc da Editora
Professor Ângelo -   Pai de Geraldo Magela
Sr. Pascoal -  pai de Dalva
Dalva – a menina dos cestos
Contador de sonhos:
Bento e Bela –  casal de gêmeos
Henrique Fonseca – Cadete – oficial casado com a gêmea
Benjamin – filho de Henrique e Bela
 Constance – Namorada de Benjamin
Professor Pierre – Prof de Benjamin na França





           Década de 60, auge da ditadura, Nestor Cimbra, Português recém chegado com sua família e alguns emigrantes, resolve fixar moradia em Brasília e abrir a Editora Ruptura, depois de ter um sonho com seu pai lhe entregando vários livros.
           Começa a publicar livros de vários gêneros, principalmente os dos intelectuais e professores da UnB. Com vários livros censurados, confiscados e incinerados, ele passa por muitas dificuldades até se adaptar a nova realidade do mundo editorial do país.
           Juntando-se com vários companheiros da resistência intelectual é convidado para uma reunião secreta, onde só poderiam entrar com lápis e um bloco de papel - para que ninguém pudesse ouvir ou registrar as vozes - depois de uma delação, Nestor acaba sendo investigado, preso e torturado, mas com a ajuda de amigos intelectuais consegue sair do cativeiro para exílio em Portugal.
           Deixando a mulher Dulce grávida e com dois filhos que seguiriam em breve para encontrar com Nestor em Portugal. No dia da despedida, quando chegam ao aeroporto, ele beija sua mulher dizendo amá-la muito, e que ela é a coisa mais importante pra ele, e assim que chegasse a Portugal mandaria as passagens, para ela e as crianças. É quando estoura a bolsa e começa o trabalho de parto.
           Nestor parte com o coração na mão, frustrado por não poder participar do parto. Lamentavelmente quando chega a Portugal, recebe uma carta com a notícia de que sua esposa havia falecido após dar a luz à uma menina linda chamada Vitória. Já fragilizado com a distância, Nestor passa alguns dias chorando. No exílio recebe os filhos em Portugal, mas Vitoria fica com Dnª Mercês e Dnª Maria sua ama de leite.
           Três anos depois retorna para o Brasil e encontra Vitória e a filha corre para os braços do Pai e logo vira a princesa da casa. É idolatrada e admirada pelos irmãos mais velhos, e a caçula cresce mimada sob os ciúmes dos irmãos e do Pai. Mas com um discernimento social precoce, pouco comum e vira uma moça linda, por dentro e por fora.
           Nestor retoma a editora e começa a publicar livros infantis para a rede de ensino público para sobreviver, mas nota um conteúdo deturpado nos livros de ensino, e como estavam ocultando verdadeira historia da construção sócio-política do país, assim como omitem a importância de J.K e seus parceiros na construção de Brasília e a intenção dos criadores em tornar a cidade multicultural e Nestor sente que o efeito da censura já reflete na formação dos jovens. Numa revolta silenciosa, sente que Brasília se transformou em uma Utopia interrompida.
           Ele se restabelece, e publica também poesias, romances, e biografias para alimentar a teia produtiva da leitura que estava em alta no Brasil e incentiva o mundo editorial com alguns jornais alternativos que continham mensagens subliminares em alguns textos de escritores e pensadores, agora marginais sufocados pela repressão.
           Na década de 80, Heitor Coimbra, aos 33 anos, filho de Nestor, dono de carisma impressionante, envolve a todos nas suas empreitadas. Cresce num ambiente conturbado pela ditadura, mas tem uma infância muito feliz ao lado de vários amigos. Após concluir o ensino médio segue para Europa. Faz graduação em Literatura, em Coímbra/Portugal.
           Retorna para o Brasil, e começa a ajudar seu pai nos negócios. No começo, orientado por ele, Heitor fez desde a limpeza ao trabalho de ofice boy. Depois do arquivo até os serviços de revisão na editora. Pois na criação de Heitor “para você ser superior de uma teia de trabalhadores, você tem que saber como é feito o serviço de cada um”. E assim exercitar o humanismo e positivismo, filosofia das quais sua família era simpatizante, usando o lema de família: “aqui, ócio não!” sempre na ponta da língua.
           Vitória Filha de Nestor começa a se interessar por fotografia e começa estudar Cinema na UnB, mas está com a cabeça no seu primeiro documentário sobre a rodovia transoceânica. Pouco se envolvendo com a editora, mas está sempre presente para ajudar quando seu pai a chama.
           Antenor o filho do meio de Nestor resolve seguir a profissão de advogado, faltando pouco para concluir o curso, ele começa a se especializar em Direitos Autorais na parte audiovisual, literatura e musica passa a ajudar o pai nos contratos e transações da Editora e a irmã na produção do seu documentário.
           Depois de algum tempo, Heitor passa a assessorar o pai nos negócios, e é totalmente envolvido pela rotina da editora.  Pela experiência que acumulou em vários estágios na empresa, o pai percebe que o filho está indo bem na editora e resolve apostar em Heitor
           Nestor decide passar uma temporada em Portugal para acompanhar o inventário da morte de seu Agenor, pai de Nestor, rever os parentes e amigos e depois respirar um pouco, pois há muitos anos não tinha férias e faria uns exames de rotina que há muito não fazia e incumbe o filho de dar continuidade à gestão da editora Ruptura.
           Heitor fica com o espírito repleto de gratidão, pede carta branca para fazer negócios e faz um pacto de honra com o pai: de que mesmo não correspondendo as expectativas, a ele confiado, e que não colocaria o patrimônio da família em risco. Tranqüiliza o pai, e o embarca para Portugal.
           O Pai diz a Heitor que tente aproximar Vitória e Adamastor da Editora alegando que é ela é um patrimônio da família, e deve ser cuidada por todos, inclusive não esqueça, você tem carta branca pros negócios mas você vai precisar da assinatura deles para fechar qualquer negócio sobre a Editora.
           Céu azul, uma pomba branca voando no infinito, uma nevoa seca do cerrado, cheiro de chuva e um Ipê amarelo que acabara de espocar. Subitamente, aparece um gavião negro e captura a pomba com suas garras e segue voando...
           Heitor Coimbra acorda assustado, intrigado com o sonho e durante o café da manhã faz uma reflexão sobre o sonho. Toca o telefone, sua namorada Helena, que lhe dá os parabéns pelo primeiro dia como diretor da editora. Ele começa a falar do sonho, e ela desmonta sua preocupação falando que ele era o gavião e ela era a pomba. Os dois caem na gargalhada e ela lhe dá novamente parabéns pelo seu primeiro dia como diretor.
           Helena diz que ira na parte da manhã com Vitória, mas não poderia ficar muito tempo, pois as duas iriam para uma reunião sobre o documentário de sua irmã que já convidou Helena para ser uma  parceira do filme. Helena aceitou e como uma boa jornalista, fez uma pesquisa minuciosa sobre a rodovia transoceânica.
           Adamastor que trabalha no departamento jurídico, também liga dá parabéns ao irmão e se coloca a disposição para ajudá-lo e confirma presença na posse de Heitor, mas que eles precisarão marcar uma reunião para colocá-lo a par dos contratos e da situação jurídica da Editora, a pedido do pai.   
           Chegando à editora, sempre com o cheiro do café novo da Dona Maria, servente da editora e que fora ama de leite de Vitória, trabalhava a muitos anos, agora  com sua filha e ajudante Jandira, que sempre estava calada, mas prestando atenção em tudo. Heitor entra na editora e é recebido com uma festa de boas-vindas.
           Faz um discurso e reforça o lema de sua equipe continuará sendo a do seu pai, “Aqui, ócio não!”. Usou o cheiro do café novo da Dona Maria como exemplo e conceito, e que aquele gesto demonstrava o trabalho de uma pessoa que se preocupa com o bem estar e respeita seus colegas o trabalho. Ainda diz que a diferença inibe a monotonia, pois seria monótono se fossemos todos iguais. E coloca seus dois irmão como parceiros nessa empreitada
                
           Depois de algum tempo na rotina do seu trabalho, Heitor tinha um hábito de toda segunda- feira, enviar algumas correspondências para Europa, dizendo a secretária que era para os amigos de faculdade e depois, durante a semana, de passar alguns momentos a sós, antes de começar seu expediente, que consistia em receber vários escritores para avaliar seus trabalhos.
           O detalhe é que, enquanto Heitor recebe a apresentação de novos projetos, ele faz uma análise psicológica comportamental de cada escritor descrevendo mentalmente seu perfil e sua psique durante o caminhar da porta até a mesa de Heitor finalizando somente, até o aperto e mão dele. A cena da entrada está sempre em câmera lenta.
           Entre os escritores, Geraldo Magela, filho do professor Ângelo, ativista político que também foi caçado e torturado de Montes Claros, estava na sala de espera da editora quando Heitor volta do almoço. Ao ver Magela bebendo o café da Dnª Maria e pedindo para fazer uma ligação para um tio aonde iria se hospedar, pois acabara de chegar a Brasília e precisava pegar o endereço de seus tios.
           Heitor autorizou, e então quando Magela pegou um papel para anotar o endereço do tio, escreveu atrás de uma nota fiscal da chefa de contabilidade que foi arrancada grosseiramente de suas mãos pela Dª Mercês, pessoa de humor sarcástico e ácido, amiga antiga de sua finada mãe, dizendo que ela precisa arquivar a nota fiscal e que ele procurasse outro papel no banheiro para anotar o que ele quisesse.
           Heitor constrangido com o tratamento da sua contadora. Sente no escritor, uma boa índole e convida-o para entrar em sua sala. Magela comunica que estava agendado para àquela tarde , e aproveita a oportunidade para apresentar os originais datilografados de um romance intitulado “O contador de sonhos”.
           Heitor adora o título e sai da editora com os originais e a intenção de começar a ler naquela mesma noite, mas recebe inesperadamente um convite de um amigo de infância para uma festa na casa dele. Aproveitando a viagem da mãe para uma temporada na Europa. E iriam várias meninas.
           Chegando à casa do amigo coloca o manuscrito numa estante gigante de jacarandá, ao lado de uma televisão colorida recém lançada da Philco. De repente chegaram muitas pessoas e durante a festa, algumas pessoas no envelope, elogia o título do livro, algumas vezes, e deixa Heitor mais curioso para ler o romance.
           Heitor bebe muito, vê uma garota de mini saia muito charmosa e sensual e começa a dançar com ela, mas vê Moema colega de sua namorada e recém amiga de Vitória, que está em todas as comemorações da família de Helena, e combina de encontrar embaixo do bloco com a tal menina.
           Depois de conversar muito aproveitando a festa clandestina com meninas aparentemente mais liberais, resolveu contar que tinha uma namorada e nada o faria deixá-la  e que muito a estimava, mas que estava sentindo atração fatal por ela desde que chegou na festa ela responde que não quer compromisso com ninguém que tenha outro relacionamento.
             Heitor olha frustrado e ela pergunta para Heitor se ele realmente a ama. Ele reage de maneira descontraída e começa a tecer elogios a Helena. Lembra como ela é maravilhosa e responde que sim. Ela fala: pois é cara respeita seu amor, ela deve merecer. Os dois acabam voltando para a festa. Heitor percebe o quanto havia julgado mal a menina de mini saia. E agradece pelas palavras.
           Entrando na festa Heitor dá de cara com Moema, que comenta ter sentido sua falta na festa por alguns momentos, Nestor fica desconcertado e diz que foi deixar um livro no carro, ela puxa assunto e pergunta os detalhes do livro. Ele responde que ainda não leu e só sabe o título que é: “O Contador de Sonhos”, e que estava curioso para ler.
           Moema fala um pouco dela para Heitor, que se envolve na conversa. Os dois recordam amigos em comum, e por um longo tempo ficam ali. De repente numa voz envolvente e sensual, Moema confessa que sempre foi louca por Heitor e num ímpeto agarra Heitor e o beija loucamente, Heitor não resiste ao fogo dos abraços e beijos e sai da festa à francesa com Moema.
           No outro dia, acorda com Moema na sua casa. Lembra de tudo e fica numa ressaca moral avassaladora. Mas trata Moema bem, faz um café, conversam sobre o que acontecerá e Moema tranqüiliza Heitor, e diz que não vai comentar com ninguém. Heitor se despede de Moema e ela vai pra sua casa.
           Toca o telefone, é Helena falando que ligou até tarde e não conseguiu falar, ele diz que recebeu um romance novo e começou a ler na editora e adormeceu por não conseguir desgrudar do livro, ela pergunta o título ele diz: “O Contador de Sonhos” e lembrou que havia esquecido o envelope na casa do amigo. Quando foi buscar no outro dia, misteriosamente os originais do romance haviam desaparecido. eitor eHei
Heitor recebe um telefonema de Geraldo Magela perguntando sobre o que havia achado do romance.
 
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           Um mês depois, Heitor recebe um telefonema de Geraldo Magela perguntando o que havia achado do seu livro. Constrangido, Heitor informa que não tivera tempo de ler, ocultando o sumiço do envelope. Passado três meses ele volta a ligar, e novamente Heitor repete a mesma desculpa. E pede mais um tempo pra ele.

          Dentro de uma sala circular com vários espelhos, Heitor se depara com o reflexo de várias portas abertas. Quando ele se aproxima do primeiro espelho as portas vão se fechando em efeito dominó, repetindo cada vez que ele se aproxima de outro espelho...
           Ele acorda intrigado novamente e corre para a editora atrasado para uma reunião de negócios. Depois do café da manhã toca o telefone e é sua namorada novamente desejando um bom dia e querendo marcar um encontro mais tarde, e diz que quer ir para um motel que ele tinha ido com a menina da festa.
          A Editora Ruptura é uma empresa bem sucedida no mercado editorial e em momento de ascensão. Heitor, aproveitando-se deste momento, resolve arriscar em investimentos mais inseguros e faz negócios com editoras e distribuidoras nacionais e internacionais.
          No início, Heitor ganha muito dinheiro, fama e passa fazer palestras sobre a importância da leitura e a ser muito assediado por socialites e mulheres bonitas. Passou à freqüentar lugares caros em ambientes fúteis. Nesta fase, ele demonstra-se arrogante e inescrupuloso. Passa a conviver com um grupo de milionários que usam muita cocaína e começa a se sentir poderoso.  
          Depois de alguns meses Geraldo Magela liga novamente e pergunta o que ele havia achado do livro, Heitor perde a paciência. Pede perdão ao escritor, e diz que o livro não se enquadra no conceito da editora, e que infelizmente não iria publicá-lo.
           O escritor pede que Heitor devolva os originais, informando não ter nenhuma outra cópia. Heitor fica constrangido, se envolve num nervosismo aparente e diz rispidamente que não sabia que era a única cópia, que ele devia ter avisado, e que não sabia que fim levara os originais e desliga o telefone.
           Um velho amigo do Sr. Nestor, Sr. Abuquerque que era o copydesk e diagramador da editora, e um dos emigrantes que chegaram com Nestor, Dulce, e Mercês Observando o comportamento de Heitor, que está se desvirtuando e se mostrando muito ganancioso. Cada dia que passa esta ficando frio. Até Helena que o ama como ninguém esta pensando em deixá-lo.
           Dnª Mercês avisa ao Sr. Albuquerque que Nestor esta gastando muito e as contas daquele mês iria fechar no vermelho e juntos telefonam para o Sr. Nestor em Portugal, contam ao pai sobre o que está acontecendo, e que estão vendo que Heitor esta se transformando dia-a-dia em outra pessoa. Tem sido agressivo com os funcionários, virou um Workholic e passava noites em claro na editora.
           Nestor a par de uma parte da estória, muito preocupado com o depoimento dos amigos, acha muito estranho o comportamento de Heitor. falar isto do seu primogênito, que sempre foi exemplo de confiança e caráter, o incomodou profundamente e    liga no mesmo instante para Heitor perguntando o que aconteceu.
            Heitor começa a chorar compulsivamente e o pai, percebendo o comportamento psicológico do filho, Fala pra Heitor parar com tudo e seguir para uma temporada na fazenda do tio Agenor no Rio Grande do Sul, pois a geada tinha sido forte este ano no sul, perderam uma colheita inteira, e que o tio estaria precisando de ajuda neste momento, o que seria bom para Heitor fazer uma reflexão sobre tudo que esta acontecendo em sua vida.
             Enquanto isso, Nestor providenciaria as passagens para voltar imediatamente ao Brasil e reassumir a editora e que Heitor não se envolvesse daqui por diante e nem assunto da editora, para que Nestor pudesse ficar a par dos problemas e depois Heitor retornaria para que pudessem conversar.
             Heitor aceita o conselho do Pai e concorda em ajudar o tio no Rio Grande do Sul. Arrumando a bagagem para partir, recebe um telefonema de seu amigo de infância contando que sua mãe havia chegado da Europa e durante a arrumação da casa, mudando alguns móveis de lugar, encontrou o envelope com os originais do romance que ele havia procurado.
             Heitor passa na casa do amigo, apanha o envelope, pergunta onde estava os originais, o amigo responde que estava debaixo da estante de Jacarandá. Ele agradece ao amigo e segue, de carro, para o Rio Grande do Sul. Vai se lembrando de como ele estava bem, os negócio estavam de vento em poupa, mas ele quis mais e tornou-se um capitalista idiota.
             Bebe por todo o trajeto e chega completamente embriagado na fazenda do tio em uma noite de chuva, coloca o envelope debaixo braço e sai do carro. O tio o recebe decepcionado pelo estado em que se encontra e o coloca para dentro de um quarto de fundos na fazenda onde algumas goteiras faziam uma sinfonia durante a noite.
             Heitor ainda tenta conversar com o tio, balbuciando algumas palavras, mas não consegue desmaia de embriaguês. Ao acordar com o chamado para o café da manhã, Heitor acorda com uma ressaca homérica numa dor de cabeça horrível. Toma um banho gelado, escova os dentes e logo vê uma menina loira linda caminhando com um cesto na mão cheia de maçãs.
             Ele cumprimenta sua tia e as duas primas, senta a mesa com um bom dia sério de seu tio, que o recebe a mesa sem muita simpatia, dado a chegada e diz que como ele bem sabe na família existe um tem um lema: “ócio, aqui não!”, e que depois do café ele iria passar algumas tarefas para Heitor.
                         
             Como seu tio tinha o mesmo jeitão do seu Pai, incumbiu Heitor de começar pelos trabalhos mais simples: limpar o chiqueiro, tirar leite, cuidar da horta e dos animais. Começa logo cedo dá uma paradinha pro almoço e só vai terminar perto do Jantar.
             Senta janta com seu tio que levanta da mesa dizendo que iria se recolher, mas que no dia seguinte precisaria que Heitor fosse com ele na cidade. Heitor fica conversando com sua Tia e pergunta se seu tio esta chateado com ele, ela explica que não, mas está preocupado com os empréstimos que fez para a última plantação.
             Heitor pergunta por que ele saiu tão rápido da mesa, a tia fala que ele tem um hábito de ler todas as noites e quando a leitura é boa, ele corre logo depois do jantar para ler, até não agüentar mais e adormece Chega à noite no seu quarto, está tão cansado, que se esquece do envelope e adormece.
              No outro dia no café da manhã ele percebe o vulto de uma pessoa que o chama a atenção, quando olha melhor vê que é a menina do cesto de Maçãs e pergunta pra sua prima quem era, a prima diz que ela se chama Dalva e que é filha do Sr. Pascoal Vizinho e amigo do tio, mas estava ali para dar aulas de português para alguns filhos de trabalhadores.
              Seu tio aparece bem arrumado e pergunta a Heitor se poderiam ir à cidade, mas que quando chegassem retomariam o trabalho e Heitor acompanhou seu tio diligentemente até a cidade, onde foram direto para o Banco. Chegando lá recebe a notícia de que se não pagasse as dívidas até o final da colheita poderia perder sua fazenda. E Heitor e seu Tio saem de lá arrasados
              No caminho de volta seu tio não dá uma palavra nem tão pouco Heitor, chegando a fazenda sem saber o que dizer, Heitor fala ao tio que no fim vai dar tudo certo, e que ele estaria a sua disposição pra qualquer coisa. O tio olha para ele com descrença e diz: vamos trabalhar menino Heitor, “Aqui! Ócio não!”. E trabalham até a hora do jantar.
              Seu tio levanta logo depois do jantar, e em silêncio, vai direto para o quarto. Heitor e sua tia ficam conversando, e ele comenta  sobre a dívida do tio. A tia fala que isto sim estava preocupando Agenor e Heitor pergunta por Dalva professora de suas primas. Sua tia diz que ela é uma menina de ouro e dá boa noite a Heitor.
              Chegando ao quarto, Heitor se dá conta que não pegará o livro para ler em nenhum momento e começa a procurar por todos os cantos do quarto e do carro. Vai dormir chateado e preocupado. Pensando se teria perdido novamente, o livro que passou meses procurando, mas cansado, adormece novamente.
              Logo de manhã Heitor acorda procurando pelo livro e quando vai novamente ao carro para se certificar de que o envelope estaria ou não no carro, avista Dalva com um cesto de Bergamota, que acanhada esboça um sorriso para ele, o que lhe deixa, muito empolgado.
              Chegando a mesa de café da manhã, Heitor comenta triste sobre o desaparecimento do envelope que havia trazido de Brasília e que já havia perdido de outra vez e depois do alívio de achá-lo, amanheceu sem saber o paradeiro do livro, pois na sua lembrança, tinha entrado com o envelope na fazenda. Seu tio escuta o sobrinho e saem para o trabalho.
              Indo fazer suas tarefas, mas intrigado com a perda do livro, Heitor encontra com Dalva e sente um frio na barriga e timidamente se cumprimentam, Dalva diz a ele que ouviu sobre o livro e lamentava muito pelo acontecido, pois para ela o livro é uma das coisas mais sagradas que ela conhece na vida.
              Dalva falava que gostava muito de ler e recebia muitos livros do Tio Agenor e tinha começado a escrever algumas coisas, mas tinha vergonha de mostrar, ele diz que teria o maior prazer em ler, ela responde que talvez um dia. Os dois se despedem e Heitor vai fazer suas obrigações.
              Quando chega a hora de jantar, o tio revela ao sobrinho que encontrou o livro quase molhado no chão e começou a ler e não parou mais, por isso não avisou ter encontrado o romance, e diz que é maravilhoso, que leu e o livro é contagiante e pegaria no quarto para devolvê-lo.
              Heitor chega no quarto abre o envelope e começa a ler....


              O romance tem início no aniversário de quinze anos de um casal de gêmeos. Durante o baile de debutantes, a menina se encanta com um cadete da Academia Militar das Agulhas Negras. Os dois se apaixonam e o cadete, três anos depois, retorna para ficar noivo da jovem.
              Depois de formado, o agora oficial se casa com a menina e o casal se muda para Brasília, onde tem um filho no primeiro ano de casamento. Eles dão o nome de Henrique e menino cresce num ambiente tão tranqüilo quanto hipócrita, talvez pela postura do Pai que sempre trata a mãe com hostilidade e autoridade.  Não à agride fisicamente,  mas deixava cicatrizes na alma.
              Anos depois, Fulana recebe uma carta de seu irmão gêmeo, dizendo que havia concluído os estudos e gostaria de ir para Brasília fazer mestrado e se poderia se hospedar em sua casa por um período.
              Ela, inibida pelo comportamento repressor do marido, prepara o ambiente da comida que ele mais gosta e faz o pedido. O marido pediu um tempo para avaliar e depois de alguns dias em silêncio, diz a esposa que aceita e pede que ela comunique  Henrique que seu tio iria morar com eles e que compartilhariam o mesmo quarto.
              A empatia entre tio e sobrinho é imediata. Ao acordar, o menino conta o sonho que teve para o tio. Este, por sua vez, resolve contar o seu sonho para o menino. Os relatos tornaram-se um hábito. Os sonhos mirabolantes do tio despertavam a curiosidade do menino, que já acordava ansioso pelas próximas estórias do tio.
              Todas as manhãs o tio deixava o menino na escola e seguia para a faculdade. Durante o percurso, iam conversando sobre histórias e sonhos. Uma dessas histórias vira um código de comunicação entre os dois, a lenda de Ubuntu:

              Um antropólogo estava estudando os usos e costumes de uma tribo da África. Quando  terminou seu trabalho e esperava pelo transporte que o levaria ao aeroporto, resolveu propor  uma brincadeira com as crianças a tribo, que julgou inofensiva.
              Posicionou um cesto de guloseimas embaixo de uma árvore. Chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse "já!", elas deveriam correr até o cesto e a que chegasse primeiro, ganharia o cesto como prêmio.

              As crianças se posicionaram em uma linha demarcada no chão pelo antropólogo e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse "Já!", instantaneamente todas as crianças se deram as mãos e saíram caminhando juntas em direção à árvore. Chegaram todas ao mesmo tempo e começaram a distribuir as guloseimas entre si. Felizes.

              O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou por que  tinham ido todas  juntas, se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto.

              Elas simplesmente responderam: "Ubuntu, Ubuntu. Como uma de nós  poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?".

           Ele ficou desconcertado! Meses e meses trabalhando, estudando a tribo e seus costumes e ainda  não havia compreendido, de verdade, a essência daquele povo. Uma competição nunca daria certo numa comunidade unida.
Ubuntu significa:

"Sou quem sou, porque somos todos nós!"

             Depois de um tempo, o pai do menino é enviado pelo Exército para fazer um curso na Alemanha e a família segue com ele para a Europa.

             O menino, ao concluir o ensino médio na Alemanha e perder  mãe precocemente, encantou-se pela literatura e língua francesa. Seu pai retorna ao Brasil e ele resolve estudar literatura na Sourbonne, Paris - França.
             Ao final do curso, depois de criar laços de amizade com o seu orientador, escreve seu primeiro livro, “O Contador de Sonhos”, inspirado nos sonhos contados por seu tio durante sua infância em Brasília.
             Com a ajuda do orientador, consegue finalizar o livro e publicá-lo na França, onde obteve sucesso.
             Depois de muitos anos sem contato, Henrique manda seu livro para o tio. A encomenda é devolvida. Henrique resolve descobrir o paradeiro do tio e retorna ao  Brasil para procurá-lo.
             Henrique descobre que seu tio havia se casado com uma índia, morando no Amapá e  não estava bem de saúde.  Vai ao seu encontro.
             Chegando à casa do tio, que apesar do olhar tranqüilo e feliz, trazia as marcas do tempo e das lidas. Os dois se abraçam. Henrique diz que seu livro foi inspirado nas histórias do tio e que em breve terá uma edição em português.
             O tio, com olhar terno e carinhoso, ele confessa com a voz cansada e embargada que jamais se lembrava dos sonhos que tinha durante a noite, mas, devido à felicidade do sobrinho quando ouvia suas histórias, inventava um sonho a cada manhã. 
             Henrique, perplexo, abraça-o. Ao se despedir, seu tio o chama e diz: “ Ubuntu!”.
Ele sorri e vai embora...
                                                                FIM

             Heitor acaba leitura e liga para o Pai que já está no Brasil. Fala do livro tentando convencê-lo a publicar, mas como Heitor havia deixado um rombo nas contas, a editora estava quebrada. O pai falou que não podia apostar em nenhum novo projeto principalmente desconhecido. Neste momento seu pai aconselhou que ficasse com seu Tio Agenor por mais uns tempos até a poeira baixar.
                            
             E assim não teve êxito na sua empreitada, mas discorda do Pai e diz que estaria chegando em Brasília no próximo mês, para apresentar os manuscritos do Contador de Sonhos pessoalmente e quew ele não iria se arrepender. O pai fica em silêncio e desliga o telefone.
            “Num campo cheio de flores de todas as cores aparece Dalva com um vestido branco passeando pelo campo com o cesto vazio e chorando....”
           Envolvido com os trabalhadores e as famílias pela rotina na fazenda, Heitor volta e começa a fomentar alguns projetos para alfabetização antes de partir. Lembrando do incentivo a leitura que seu pai tanto falava de seu avô, começa a envolver seu tio para o projetgo de alfabetização e de leitura e depois consegue amolecer o coração do tio Agenor a entrar no projeto, o que deixa Heitor muito feliz.
          Perto de ir para Brasília, Heitor reúne todos os trabalhadores e anuncia sua partida. Com manifestações de desapontamento apego e saudade. Temperado por um romance apaixonante e inesquecível com uma menina chamada Dalva, filha de um dos ajudantes de seu tio Agenor. A partida deixa o coração de Heitor partido, de vê-la na estrada quando sai da fazenda.
          Já em Brasília Heitor procura o pai e entrega os manuscritos que o recebe sem nenhum interesse aparente, e joga o envelope na mesa pedindo que prometesse ler o livro, O pai fala que a única preocupação no momento era pagar as dívidas que ele havia deixado e começa a reclamar das contas... e que estava muito ocupado naquele momento.
          Heitor interrompe o pai e diz que tem uma solução, e que ele iria arranjar o dinheiro, mas agora ele teria que localizar o autor do livro que mora em Montes Claros. Quando sente o cheiro do café da Dnª Maria...  seu pai sem muita paciência  responde: Ok. Agora tenho um compromisso. Vamos conversar depois.
          Heitor passa na copa para beber um café já matando a saudade com Dnª Maria. Apreciando a sabedoria daquela anciã, conversam por longas horas e fala de suas experiências no Sul e como sua família foi importante para que ele não caísse num abismo de ilusões e não acabasse com o patrimônio dos Coimbras. Dnª Maria responde dizendo que só a família fica nas horas difíceis.
          Ele se despede dizendo que teria que localizar o escritor deste livro em Montes Claros e não tinha mínima idéia de onde encontrá-lo, quando Dnª Maria pergunta se é o Magela e Heitor surpreso fala que sim, e pergunta como ela sabe.
          Ela diz que ficou conversando com ele na hora do almoço enquanto esperava Heitor chegar do almoço, no dia em que ele veio à editora apresentar o livro “O Contador de Sonhos”. Aí Jandira falou que se lembrava dele escrevendo o endereço de alguém de sua família na nota fiscal da Dnª Mercês da contabilidade.
          Heitor fala que Jandira ficava calada mais presta atenção em tudo e agradece a Dnª Maria e Jandira pelas informações. Ele faz um passeio pela editora, conversa com vários funcionários e todos o tratam com estranhamento, pois ele teria deixado uma má impressão, nas ultimas lembranças da equipe. Ele se despede envergonhado de todos e vai para a sala do pai que continua em reunião.

         Assim que Nestor abre a porta, Heitor entra na sala do Pai e fica sentado e espera ele se despedir das pessoas que estavam na reunião. Nestor entra na sala, Heitor começa a falar e seu pai interrompe. Pergunta que solução ele teria para as dívidas, pois não o escutaria enquanto ele não falasse.
          Quando subitamente entra sua secretária e fala que chegaram as pessoas para próxima reunião, Heitor pede o endereço de Dnª Mercês e o pai pergunta intrigado porque ele queria falar com ela, ele explica e o pai diz para ele, que ela não estava bem de saúde e que ele fosse com bastante cautela, pois ela estava internada no hospital de Base.
          Heitor vai ao hospital e Dnª Mercês está na UTI, ele volta no dia seguinte no horário de visitas e consegue falar com ela, que observando seu estado de saúde, iniciou relembrando sua infância com sua mãe e as várias fases que ela participou na sua vida.
          Percebendo a descontração do momento, ele relembra a ocasião em que Magela havia escrito um endereço numa nota fiscal. Ela responde que sim e que como ele havia escrito à caneta ela não pode apagar. Ela ficou muito aborrecida com isso, pois seu trabalho é impecável  e não gostou da falta de atenção daquele rapaz, mas Heitor volta a perguntar sobre o paradeiro da nota.
          Dnª mercês percebendo a curiosidade de Heitor começa tossir e de repente desfalece, ele fica assustado e subitamente ela arregala o olho e diz: Enganei-te. Ele esboça um sorriso, e fala para ele chamar a enfermeira e pedir que pegue a chave de sua casa nos seus pertences, pois as pastas de contabilidade da editora estão no quarto de empregada.
          Agora era só, ele saber o ano e o mês da visita de Magela, que ele encontraria a nota. Ela pediu que também fizesse a gentileza de pegar no armário de seu quarto, uma carta na terceira gaveta da porta do meio e  uma fotografia na gaveta do seu criado mudo e entregasse ao seu pai. Heitor pega a chave e vai e vai direto para lá.
          Chegando ao apartamento Heitor vai à procura da nota e logo a encontra com o endereço dos parentes do Magela, logo depois abre o armário dela e encontra vários objetos de sex shopping e fica impressionado, depois abre a gaveta do criado mudo e saca uma foto de seu pai com Dnª Mercês quase pelados encima de uma cama bebendo champanghne, mas com um dedo aparecendo na foto. Heitor fica estupefato e curioso para saber de quem era àquele dedo.
           Quando Heitor acorda vai imediatamente ao hospital para agradecer Dnª Mercês e brincar com ela sobre as novidades que achou no apartamento, mas chegando ao leito vê uma equipe em volta, quando um médico se vira e balança a cabeça depois informa o falecimento de Dnª Mercês, Heitor fica triste e vai pra editora entregar a carta e a foto para seu pai e informá-lo do falecimento.
           Chegando à editora encontra com seu pai, e os dois em silencio se cumprimentam, e juntos vão em direção a sala de seu pai, Nestor pega uma Bíblia e lê o salmo 23 para Nestor, Heitor por sua vez escuta compenetrado o Salmo e agradece o pai pela leitura e que dedica este salmo a alma de Dnª Mercês  O pai pergunta novamente sobre a solução.
           Heitor lhe explica que havia enviado várias correspondências para Portugal numa caixa postal com vários dólares que vinha economizando na época das vacas gordas e que a quantia podia lançar o livro de Magela e ainda saudar boa parte das dívidas, seu pai fica surpreso, e parabeniza seu filho pela atitude.
           Ainda na sala ele conta ao pai que esteve com Dnª Mercês no dia anterior, e que ela havia indicado onde estava a nota com o endereço do Filho de seu Ângelo Autor de “O Contador de Sonhos”, e pediu que lhe entregasse esta foto e a carta. Mas que nessa manhã Heitor foi visitá-la e pouco antes da chegada dele ela havia feito a passagem.
           O rosto de seu pai desmorona, entra para sua sala muito triste e começa a ler a carta: “Meu amigo, amado, companheiro de infância, de muitas aventuras e lutas, só nos dois sabemos a dor que sentimos com a passagem precoce da nossa doce querida Dulce. Mas os olhos de vitória me davam força para seguir, e ela é esculpida e encarnada nossa Dulce. Sinto que já não há mais tempo para muita coisa, mas quero te dizer que te amo e que vocês me deram uma família, pois aminha se foi na guerra. E quero te agradecer por todo carinho e amor que me destes em minha vida. Sinto-me preparada pra rever meus pais, e se possível rever Dulce para dar-lhe um abraço! Fica em paz amor da minha vida!!!
P.S. Se eu me encontrar com Dulce, ficaremos te esperando”.   
          Nestor fica muito emocionado ao ler. Os dois se abraçam e seu pai fala para ele: “a vida é um sopro” e Heitor demonstra sua consternação pelo acontecimento e diz ao pai que ele não havia lido a carta, mas que ficou curioso para saber de quem era dedo que aparece na foto.
           Nestor faz uma cara de menino travesso que fez coisa errada e fica calado e Heitor diz que logo após o funeral de Dnª Mercês ele partiria para Montes Claros onde localizaria Magela, e já falou com Adamastor para preparar o contrato da edição do  O Contador de Sonhos, e que iria comprar as passagens para que Nestor pudesse ir à Portugal com a chave da caixa postal e retirar os dólares e voltar ao Brasil.
           Após o enterro, Heitor convida Vitória para a viagem e ela prontamente aceita, O dois vão à procura do endereço, dos parentes do escritor. Quando chegam, encontram um ambiente familiar harmonioso, e  são muito bem recebidos pelos tios do autor, aí ele conta aos tios o motivo de sua visita.
           O tio do escritor, fala que Magela, encontra-se em estado de profunda depressão. Pois havia entregado seu livro, “O Contador de Sonhos” para um editor, que perdera seu trabalho de anos. Heitor com vergonha de assumir que ele seria este editor e sabendo que Vitória não conhecia o acontecido, inventa que achou os manuscritos, e ficou curioso pra ler. E como seu pai é dono de uma editora resolveram publicar o Livro que haviam achado maravilhoso.
            O tio de Magela fica muito contente com a notícia, e fala da importância de avisar Geraldo Magela da boa nova, mas Nestor pede sigilo ao tio e comunica que quer dar a notícia pessoalmente, aí o tio passa todos os contatos de Montes Claros para ele, e Heitor sai em direção ao encontro de Magela. No caminho veio se perguntando por que não assumira o extravio dos originais. Mas abstrai com as musicas que Vitória coloca no som do carro e se concentra na busca pelo escritor.
             Chegando a Montes Claros, eles param num posto de gasolina e enquanto abastecem o carro, Vitória pergunta para o frentista, se ele conheceria um professor chamado Ângelo, pai de Magela o frentista diz que ele fora seu professor na infância, e que ele trabalhava na biblioteca de um colégio da cidade e prontamente passou o endereço do colégio para Vitória.
              Quando Heitor e Vitória entram no colégio logo se lembram da infância e deixam a introspecção reviver alguns momentos de nostalgia, vão até a secretaria e perguntam se o professor Ângelo estava e se poderia recebê-los. A secretária pede que eles aguardem um momento e começam a passear pelo pátio e Heitor escuta um professor lecionando para uma turma do início do ensino médio uma disciplina de história, e ele se lembra das aulas na sua infância. Em seguida aparece a secretária e pede para eles  acompanhá-la.
              Passando por um corredor Heitor observa algumas fotografias na parede que aparentavam algumas gerações de professores e/ou Diretores que atuaram ao longo da trajetória de trabalho da escola e logo vê o nome do professor Ângelo numa foto e já simpatiza com seu semblante e mostra foto para Vitória
              A secretária bate numa porta e Heitor escuta os passos descompassados em direção a porta. Aparece o professor Ângelo com uma bengala e com uma notória deficiência na perna esquerda. Com um sorriso no rosto, convida Heitor para entrar e começa a apresentar a biblioteca para eles e de repente ele mostra uma seção com vários livros da Editora Ruptura.
              Heitor pergunta se ele conhecia a editora ruptura e o professor responde que comprava muitos livros de alguns de seus colegas que eram professores da UnB e comprou algumas publicações na década de 70, mas depois tivera um acidente e ficou por um longo período sem trabalhar.
              O professor Ângelo resolve abrir seu coração e faz um depoimento emocionante sobre as torturas e agruras para Heitor e relembra que muitos de seus amigos ficaram em depressão naquela época mais severa da ditadura, mas não havia diagnóstico para este tipo de doença.
              Depois de várias conversas... Heitor resolve explicar ao professor o motivo de sua vinda a Montes Claros e num tom de seriedade começa a falar da tristeza que seu filho Geraldo passara por conta do extravio de seus manuscritos, e com ele toda a família ficou triste, pois ele vinha há muito tempo escrevendo seu romance.
             O Professor Ângelo fala que Magela está em sua casa passando por um momento de muita depressão, pois acabara de separar de sua mulher e perdeu o contato com os filhos, pois começou a se embriagar depois que soube que não teria mais os originais do seu romance, tentou reiniciar a escrever, mas não teve anima. Combinaram para a próxima manhã e Heitor e Vitória foram para um hotel.
             Logo de manhã no café da manhã escutam algumas notícias na televisão e partem para a casa do professor Ângelo a fim de conversar com Magela sobre a publicação de seu romance e assinar o contrato com a editora. Heitor acompanha seu pai e quando entra no quarto vê que a situação do Escritor era mais grave do que ele imaginara. Chocada com a cena Vitória fica visivelmente tensa.
             Avaliando a situação e num diálogo monossilábico com Magela, Heitor vai direto ao assunto dizendo que havia mudado de idéia e iria publicar o seu romance e que só precisaria da sua assinatura para começar a trabalhar no livro. Geraldo olha bem dentro dos olhos de Heitor e diz que àquele romance não existe mais e vai se deitar demonstrando estar dopado.
              O professor pede que eles tenham paciência e que ele estaria autorizado a publicar o livro, pois devido ao comportamento do filho nos últimos anos tiveram que entrar com uma ação de interdição e o pai era o tutor. Heitor tirou o contrato da pasta e entrega ao professor que pede um dia para ele consultar seu advogado.
              Quando Heitor e Vitória saem da casa do professor, Ela começa a chorar e Heitor também, e numa reflexão interna ele pensa que encontrara Magela naquele estado por conta da perda dos manuscritos que estavam em suas mãos. Daí faz uma avaliação das conseqüências, nos atos daquela época em que estava envolvido com grandes negócios e acabou passando por cima de alguns valores que lhe são nobres. Mas não comenta com Vitória
               Voltando para Brasília Heitor deixa Vitória e inicia a produção dos livros e faz a primeira boneca, que fica com a capa maravilhosa e muito bem feita por um artista plástico da cidade, que consegue traduzir o conceito que Heitor apresentou para ele. Logo depois aposta em 30.000 exemplares e faz os preparativos para o lançamento.
               Depois de pronto envia uns exemplares para Magela e o professor Ângelo, os dois adoram e confirmam a presença no primeiro lançamento em Brasília, seguindo depois para Rio de Janeiro e São Paulo. Em Brasília foi sucesso total, repetindo o mesmo sucesso nas outras capitais. Meses depois o livro é indicado a um prêmio de literatura.
               E com muita alegria recebem um prêmio e são convidados a fazer a versão em espanhol, francês e inglês. O que fez a editora ficar em alta novamente e compensar financeiramente o novo consagrado escritor Geraldo Magela com o livro “Contador de Sonhos”. O romance mais vendido daquele ano e que saiu pelo mundo contando esta estória.
               No dia da solenidade da premiação Heitor chama Magela para conversar em particular e muito acanhado fala sobre como aconteceu realmente o sumiço do livro. Falou de todos os seus deslizes na época e que não tinha a intenção de causar nenhum transtorno na vida de Magela. Pediu perdão por tudo que tinha causado em sua vida.
               Magela olha dentro dos olhos de Nestor novamente e com um semblante muito tranqüilo diz para Heitor: Ubuntu! Os dois saem abraçados e quando chega a um saguão vai almoçar com todos os convidados para a solenidade.
               Vitória diz que daria um belo filme esta história, Daí Nestor fala que este filme ele patrocinaria. Acaba o almoço e todos se despedem quando chega seu pai e sussurra no ouvido: “foi sua mãe” e vai embora. Acompanha o pai com um olhar de surpresa, quando Helena chega e abraça Heitor e se beijam.
                           Numa nuvem seca e no céu azul aparece vários pombas brancas voando no infinito até sumirem na névoa seca. Uma musica de fundo vai compondo as imagens, até o sol se esconder. A câmera focando as estrelas. Desce e entra no quarto de Heitor, que está dormindo. Quando ele abre o olho subitamente, sorri e olha para a câmera. E a voz de Vitória fala: Corta!




                                                 Fim
                                
                                                              
               



                


                         O Menino Poliglota
Do livro “Ladrão de Estória”                                                                                    By Paulo Djorge

          Ele chegou, e falou: posso te contar uma história? Eu cruzei as pernas, coloquei o cotovelo no joelho e a mão no queixo, e com o olhar curioso, dei-lhe a permissão de contar sem usar as palavras. E ele sorri. Desce uma cerveja importada e ao som do glof, glof, glof enchendo o copo, começa a falar.
          Há muito. Um menino. Lá no sertão de Minas. Aos sete anos. Começou a se interessar por Francês que estudava sozinho. Com a chegada de um Frade franciscano Holandês na pequena cidade onde morava. Logo o Frade notou a curiosidade do menino por outras línguas, e começou ensinar-lhe Francês, Holandês e um pouco de latim. Aos nove anos, ele vai pra capital onde conclui o ensino médio rápido.
          Depois se matricula num Colégio de padres Alemães, e começa a estudar Alemão, Inglês e Italiano que aprende quase por osmose. O menino, sonhando em ter um trabalho nobre, onde ele pudesse ajudar as pessoas. Escolheu estudar medicina. Entrou precoce, aos dezesseis anos. Como na época os livros do curso era em sua maioria, em Alemão, logo ele se destacou na turma e começou ajudar os colegas. E se tornou o orador da turma por unanimidade.
          Formando-se, foi para uma cidade do interior. Lá, convivendo com a comunidade, escutava muito os curandeiros e os pajés e respeitava o conhecimento tradicional, e estudou um pouco de Língua Indígena chegando a se comunicar e usar plantas e ervas no tratamento de seus pacientes.  
          Aprendeu o que era solidariedade, conheceu a realidade das famílias foi parceiro e amigo de todos, mas se decepcionou porque viu que nada podia fazer diante da precariedade. Não havia recurso. E não conseguia fazer nada para ajudar. Passou a refletir se estava no caminho certo.
            Voltou para a capital e depois de trabalhar como voluntário assumiu por concurso como Oficial médico do 9º Batalhão, que nas horas vagas se dedicava aos estudos de línguas estrangeiras e pesquisava nos arquivos estórias sobre os jagunços que viviam a beira do São Francisco.
          Nesta mesma época já falando nove línguas e estudando outras. Um caro amigo lhe sugere que ele tentasse a carreira no Itamaraty. Assim o fez. Passou em segundo lugar e foi trabalhou, na Hungria. Onde assinou vários passaportes para Judeus se refugiarem no Brasil e acabou sendo perseguido por isso. Escreveu vários contos e publicou com boas críticas, mas não o consagrou como escritor. Aprendeu Grego, Turco e iniciou os estudos de Russo.
          Depois que o Brasil rompeu com a Alemanha ele foi preso com seus compatriotas, mas foram trocados por diplomatas alemães que estavam no Brasil. Quando volta ao Brasil é nomeado Ministro – o mesmo status de embaixador. E vai para a Grécia para trabalhar na Embaixada do Brasil. Depois foi para Colômbia e França. Voltando pra sua terra.
                      Como tinha o hábito­ de muita leitura. Também escrevia. Daí resolve participar de um concurso literário. Ganha, e o prêmio é de cem mil réis, que na época era uma boa quantia. E lança seu primeiro livro com uma boa crítica. E escreve alguns contos.
            Chegando, estudou esperanto e depois resolveu voltar à suas origens e fazer um passeio a cavalo na região onde passou a sua infância. Lá conheceu vários mestres e escutou muitas estórias. Passou a entrevistar os caboclos e colonos para entender melhor o vocabulário da região e anotou muitos cadernos de palavra.
          Numa reflexão introspectiva, fica imaginando como poderia passar para as pessoas todo aquele ensinamento que ele absorvera durante sua vida, e se põe a escrever um livro. Procura colocar no livro, todas as questões, que percebeu no mundo do relacionamento humano. Numa linguagem universal, mas que pudesse chegar ao interior do Brasil.
          E assim escreveu “Grande Sertão Veredas” Onde os protagonistas Diadorim e Riobaldo, no final do livro o escritor concede a redenção a Riobaldo. Quando perde seu grande amor e descobre o seu verdadeiro sexo, sente um alívio em sua tão grande dor, pois na complexidade de sua perturbação, o que o afligia.
Por sentir uma atração incontrolável por uma pessoa do mesmo sexo, com uma convivência amorosa e de muita afinidade,  e que se tornava adorável a cada dia que passava, deixando uma lacuna vazia na explosão daquele amor, mas que na experiência de seus sentidos íntimos mais convictos e naturais , não haveria um sopro de possibilidade daquilo poder acontecer e ele se despede de Diadorim chorando de amor e da culpa que nunca teve.    
O livro do menino poliglota foi traduzido em vários idiomas e depois lançara alguns que lhe renderam a terceira cadeira na Academia Brasileira de Letras. Que tanto relutou em participar da solenidade de posse. Após algum tempo resolve fazê-lo. Três dias depois, ele renasce no mundo espiritual. O menino poliglota, então, teria  ido aprender a língua dos anjos.